Empreendedorismo social: um negócio espinhoso que pode dar certo

Empreendedorismo

Equilibrar as preocupações diárias e as prioridades do negócio social não é um caminho fácil para ninguém.

Quando me reconheci como empreendedora social pela primeira vez, pude perceber o quão desafiador que é criar algo e gerar impacto dentro de uma sociedade. A missão não é fácil. Afinal, manter uma estrutura com vocação social e captar recursos para promover mudanças reais não são tarefas simples. Com apoio e aprendizado, contudo, é possível criar um legado positivo e sustentável.

Tenho observado um crescimento de novas organizações apostando no empreendedorismo social. Isso é ótimo para o setor, pois fortalece uma prática que ainda engatinha no país.

Mas como todo processo em fase de iniciação, há processos, métodos e rotinas que precisam ser ajustados. Falta de um objetivo claro, por exemplo, é um dos mais comuns. Muito empreendedor às vezes se preocupa primeiro com a captação de recursos para só depois pensar nos problemas reais que sua organização deve resolver.

Sei, por outro lado, que equilibrar as preocupações diárias e as prioridades do negócio social não é um caminho fácil para ninguém. E não há receita infalível que leve ao sucesso dos objetivos estabelecidos e perseguidos dia a dia.

Contudo, acredito que podemos minimizar os contratempos deste tão espinhoso percurso. Por isso, resolvi listar algumas dicas e recomendações que aprendi no dia a dia e que podem ajudar nesta nobre missão do empreendedorismo social:

Causa genuína: o negócio deve ter uma causa genuína e verdadeira que esteja relacionada ao seu propósito.

Problemas reais: o negócio deve resolver problemas reais e atender as necessidades das pessoas relacionados à sua causa.

Profissionais engajados: não traga pessoas de fora apenas como “solucionadores de problemas”. Observe se elas realmente estão atendendo a uma necessidade estratégica do negócio.

Foco na causa: cuidado para não se perder durante a jornada. Muitas vezes começamos ajudando a resolver um determinado problema e, com o passar do tempo, queremos abraçar todas as desigualdades do mundo.

Visão do outro: o foco do negócio social é apoiar o desenvolvimento das pessoas com a visão delas, e não com a visão do empreendedor.

Credibilidade e impacto: certificações, prêmios e reconhecimentos são aliados, mas não devem ser o objetivo do negócio. O maior reconhecimento é o impacto que os projetos causam na sociedade.

Processos éticos: mesmo sendo pequena, a organização deve ter atenção para governança, para os processos e para a ética.

Transparência: auditoria é um diferencial, mas sabemos que nem sempre existe orçamento para isso. Então, invista seu tempo na organização interna.

Conselho Estratégico: um conselho consultivo com pessoas externas, que orientem e ajudem na tomada de decisões estratégicas, é sempre bem-vindo.

Negócio sustentável como apoio: ter um modelo de negócio lucrativo e simultâneo é muito importante, pois diminui a dependência de doações e melhora a sustentabilidade da organização.

Parcerias: criar parcerias com pessoas, empresas, instituições privadas e públicas engajadas na mesma causa é importante para a relevância do negócio.

Dados e pesquisas: buscar dados ou realizar pesquisas para se aprofundar nos problemas reais relacionados ao propósito do negócio é um diferencial.

Essas práticas possíveis e aplicáveis no dia a dia fazem com que um empreendimento social seja realmente genuíno. Consequentemente, a promoção da qualidade de vida gerada pelo negócio prosperará cada vez mais.

Ana Fontes é empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora – RME e do Instituto RME, Delegada Líder BR W20/G20, eleita uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil pela Forbes 2019 e Top Voices LinkedIn 2020. Autora do livro Negócios: um assunto de mulheres – a força transformadora do empreendedorismo feminino.

Fonte: Valor Investe

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