Associação de fabricantes de caixões se diz ‘assustada’ com demanda recorde e cita risco de faltar matéria-prima
Segundo presidente da Associação dos Fabricantes de Urnas do Brasil, produção cresceu cerca de 20% neste ano com o aumento de mortes por Covid, e setor está com dificuldades para comprar matéria-prima.
O aumento no número de mortes por Covid-19 no país tem sido uma preocupação para o setor de fábricas de caixões, segundo o presidente da Associação dos Fabricantes de Urnas do Brasil (Afub), Antônio Marinho.
Ao G1, Marinho, que também é diretor de uma fábrica que está no mercado há 89 anos em Dois Córregos (SP), afirmou que os fabricantes já estão tendo dificuldades para encontrar matéria-prima para fazer os caixões, principalmente madeira e MDF.
Segundo ele, os fornecedores não estão aceitando pedidos além da média encomendada normalmente devido à alta na procura, e as chuvas no Paraná também dificultaram a extração do material. O Paraná é o segundo estado brasileiro que mais exporta madeira serrada e compensada.
“A restrição de alguns produtos está dificultando a produção das urnas. Tem empresas que já ficaram alguns dias paradas sem produzir, e isso é o mais crítico que pode acontece. O aço teve uma alta de mais de 180% e está sendo uma luta para conseguir. Aí também tem tecido, componentes de parafuso, alça, papel e papelão”, lista o empresário de Dois Córregos.
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Produção de caixões aumentou durante a pandemia em Dois Córregos — Foto: Godoy Santos/Divulgaçãohttps://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
De acordo com o presidente, no ano passado, a empresa percebeu um acréscimo de 20% na produção, mas depois normalizou. No entanto, neste ano, foi possível notar uma demanda bem maior por parte das funerárias.
“Nossa preocupação é ficar sem abastecimento. Em março está uma demanda muito alta, coisa que a gente não via ocorrer faz tempo. E a previsão é que isso vá até o mês de abril.”
Ainda segundo Marinho, que atende funerárias de todo o Brasil, algumas empresas têm solicitado o dobro de caixões por mês. Por isso, a fábrica teve que contratar mais funcionários e aumentar o horário de trabalho.
“Esse mês está uma correria, aumentou muito o volume de pedidos. Estamos produzindo de 15 a 16 mil urnas por mês. Em 2020, eram 12 mil urnas. Tem muita gente querendo fazer estoque porque as funerárias têm medo de ficar sem urnas”, comenta.
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Fábrica de caixões de Dois Córregos contratou novos funcionários por causa da alta demanda — Foto: Godoy Santos/Divulgação
Marinho também explicou que contratou cerca de 15 novos funcionários a partir de janeiro, mês que a empresa raramente faz novas contratações, e começou a abrir a fábrica aos sábados, o que não era feito há muito tempo, segundo o empresário.
“A gente está muito assustado porque todos os setores estão muito alertas. E é o inverso da curva aqui, eu sempre comento. Nós temos um mercado restrito porque não adianta aumentar a demanda sabendo que o número de óbitos é sempre o mesmo. Não tem como lançar um produto novo, isso não existe”, explica o empresário.https://919538de0c6391e58b93f8221a58a0f1.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
Plano de emergência
Nesta sexta-feira (19), o Brasil completou duas semanas como o país com mais mortes diárias por Covid-19 no mundo, apontam dados do Our World in Data.
Neste mês, a Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (ABREDIF) emitiu uma recomendação às funerárias de todo o país para que elas suspendam as férias de seus funcionários e que realizem outras medidas emergenciais diante do aumento de mortes pela Covid-19.
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Coveiros com trajes de proteção aguardam para enterrar vítima da Covid-19 no Cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo, nesta terça-feira (9) — Foto: Carla Carniel/Reuters
Lourival Panhozzi, que é presidente da associação que fica em Botucatu (SP), contou ao G1 que o plano foi adotado por causa do agravamento da situação da pandemia no Brasil. Nesta quarta-feira (17), o estado de São Paulo registrou média móvel diária de 421 mortes pela Covid-19, um novo recorde desde o início da epidemia.
Entre as medidas recomendadas, a associação pediu para que as funerárias não dessem férias aos funcionários pelos próximos 60 dias e que as empresas mantenham um estoque dos materiais para sepultamento três vezes maior do que o necessário para o atendimento em um mês comum.
Fonte: g1.globo.com