Cartórios dizem que nunca registraram tantas mortes por causas naturais no Brasil como em março deste ano

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Foram 144.576 mortes ocorridas no último mês, segundo registros coletados até o momento pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). É o maior número desde 2003, quando teve início a série histórica de óbitos dos cartórios. Números devem aumentar nos próximos dias, já que nem todos os registros foram computados ainda.

Março de 2021 foi o mês com o maior número de mortes por causas naturais no Brasil ao menos desde 2003, quando teve início a série histórica de óbitos computada pelos cartórios. Foram 144.576 mortes ocorridas no último mês, apontam os registros coletados até esta quinta-feira (1). Os dados são da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais.

Apesar de já baterem recorde, os números de março ainda devem aumentar nos próximos dias, já que nem todas as mortes ocorridas no mês foram registradas. Isso porque o registro de uma morte no sistema pode levar dias para ser contabilizado.

O segundo mês com mais mortes por causas naturais nos últimos 18 anos foi junho de 2020, quando morreram 139.365 pessoas, segundo dados do Portal da Transparência da Arpen

Mortes provocadas por acidentes ou violência não entram nessa estatística, mas apenas as naturais, ou seja, aquelas causadas por qualquer doença, como a Covid-19.

“Com certeza março de 2021 foi o mês mais mortal para o Brasil por causa da pandemia. Não houve nenhuma catástrofe que explicasse um salto tão grande de óbitos, nenhum outro causador [entre 2003 e 2021]”, analisa o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt.

Março também registrou recorde de mortes por Covid-19 desde o início da pandemia. Foram 66,8 mil óbitos, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa.

“Neste momento de extrema dificuldade que estamos vivendo poder proporcionar as informações de óbitos no Brasil de forma imediata, aberta e transparente a toda sociedade e aos órgãos públicos é essencial para que as autoridades possam planejar suas ações e a população possa ter a real dimensão dos perigos desta doença”, explica Gustavo Renato Fiscarelli, presidente da Arpen-Brasil.

Excesso de mortes por causas naturais

Os dados desta quinta reforçam um excesso de mortes naturais já apurado no ano passado no país, quando o Brasil registrou pelo menos 275 mil mortes a mais que o esperado.

“Se você olhar para março de 2020, verá que foram registrados 108 mil óbitos por causas naturais no país [segundo o Conass]. Era o início da pandemia. Se olhar para março de 2021, os registros aumentam para 148 mil óbitos. Não se morrem 40 mil pessoas a mais em um único mês por causas naturais em anos sem pandemia. Isso é o excesso causado direta e indiretamente pela Covid”, explica Schrarstzhaupt.

O Brasil teve, no ano passado, 22% a mais de mortes por causas naturais do que o que era esperado, aponta um levantamento feito pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). O estudo, realizado pela organização global de saúde Vital Strategies, aponta que houve 275.587 mortes a mais no ano passado do que o previsto.

Entenda os conceitos usados por epidemiologistas:

  • Excesso de mortalidade: mede o impacto da evolução de doenças em uma população e a eficácia do sistema de saúde do país em socorrer esses doentes.
  • Cálculo do excesso: é feita a subtração entre os óbitos por causas naturais registrados (ou esperadas) entre o ano analisado e a série histórica anterior.
  • Mortes por causas naturais: são aquelas provocadas por qualquer doença, desde um infarto, câncer a Covid-19. Não entram, por exemplo mortes por acidentes, violência doméstica ou armas de fogo.
  • Porque o aumento? Foi causado tanto pelo impacto direto da nova doença como pelo indireto, por falta de assistência médica por superlotação de hospitais ou pela demora em buscar o médico.

‘Abril pela vida’

O reitor da Universidade Federal de Pelotas, o epidemiologista Pedro Hallal, afirma que os números de março são trágicos, mas, caso medidas não sejam tomadas, abril poderá ser ainda pior.

“Os números são trágicos, e precisamos agir imediatamente para evitar que ainda piore”, diz Hallal.

No mesmo dia em que os registros de cartórios apontam para o mês mais mortal no Brasil em quase duas décadas, Hallal e 30 especialistas assinaram carta endereçada ao governo federal e governos estaduais pedindo a adoção de medidas para “reverter o cenário de calamidade que hoje acomete o país.” Entre as medidas, estão lockdown de 3 semanas.

“A forma de resolver [a pandemia] é a combinação de apenas duas coisas: acelerar vacinação para chegar a 1,5 milhões de vacinados por dia; adotar lockdown rigoroso – não esses meia boca, mas um lockdown de verdade, tipo o feito em Araraquara; e curto, de 3 semanas, para reduzir a circulação do vírus. Com isso, dá para evitar metade das mortes esperadas para abril”, afirma o epidemiologista.

Intitulada “Abril pela Vida”, a carta é fundamentada em estudos desenvolvidos pela Impulso Gov, organização brasileira de saúde pública, que apontam que o avanço da vacinação no país terá impactos positivos a partir do mês de maio.

Fonte: g1.globo.com

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